Amar é uma decisão

EvaristeCarpentier

Evariste Carpentier

Certa vez um jovem foi visitar um sábio e falou-lhe sobre as dúvidas que tinha a respeito de seus sentimentos por uma bela moça. O sábio escutou-o, olhou-o nos olhos e disse-lhe apenas uma coisa:

– Ame-a.

Disse o rapaz:

Mas, ainda tenho dúvidas

– Ame-a -, disse-lhe novamente o sábio.

E, diante do desconcerto do jovem, depois de umbrevesilêncio, finalizou:

Meu filho, amar é uma decisão, não um sentimento. Amar é dedicação e entrega. É um verbo, e o fruto dessa ação é o amor. O amor é como um exercício de jardinagem. Por isso, arranque o que faz mal, prepare o terreno, semeie, seja paciente,regue e cuide. E esteja sempre preparado, porque haverá pragas, secas e excesso de chuvas, mas nem por isso abandone o seu jardim. Ame, ou seja: aceite, valorize, respeite, dê afeto, ternura, admire e compreenda. Ou, simplesmente, ame.

*****

Esta curta história carrega consigo uma das mais estupendas e, ao mesmo tempo, desconhecidas revelações: a gratuidade do amor.

Não raro, confunde-se amor com sexo, com gostar, com querer bem, compaixão, com genitalismo e com outros que tais. Mas, amor é amor. E só isso. O amor até pode incluir esses predicados, mas o inverso pode não será verdadeiro. Você pode amar e, por isso, fazer sexo; mas pode fazer sexo sem amar, também. Por isso o sábio manda às favas as dúvidas do mancebo e diz-lhe simplesmente: ame. Santo Agostinho dizia: “Ame e faça o quete der na telha” (a “telha” é expressão minha).

Quando alguém desposa alguém, normalmente promete “amar-lhe até que a morte os separe”. Mas, seria bom que fosse explicado a essa pessoa que, na visão de Deus, selou-se um compromisso eterno – uma aliança, no falar bíblico -, que jamais poderá se desfazer, a não ser pela morte. Então, o ir embora de casa porquenão te amo maisou porque “o amor acabou”, não existe. Na visão de Deus, nunca houve amor, então. Houve, isso sim, um sentimento, não uma atitude. Houve um desejo de fazer, mas não foi feito. Houve uma promessa, não um ato. Alguém casou com outro alguém porque “gostava” dele, ou porque estava apaixonado, ou porque o outro era liiiiiiiiiindo, mas não porque o “amava”. Porque amar nada tem a ver com gostar.

Na verdade, quando alguém promete amar outrem, promete esforçar-se por fazê-lo feliz, por alegrar-lhe, por causar-lhe doces surpresas. Não tem nada a ver com gostar. Eu, por exemplo, não gosto de assistir aqueles desenhos bem infantis com os meus meninos, mas o faço por amor. E é por amor que inclusive lhes estouro pipoca, que levo uma Pepsi para beberem, que ando de bicicleta com eles, que empino pipaNão faria isso se eles não existissem, pois não gosto de fazê-lo, mas, por amor a eles – e não porque gosto -, eu o faço.

Jesus não gostava das atitudes de Pedro e muito menos das de Judas, mas os amava. Deu a vida por eles, inclusive. Amou-os “até o fim“, como diz João 13:1. Eu posso não gostar do meu vizinho, de um cunhado, do cabelo da minha esposa, do piercing do sobrinho, mas devo amá-los com todas as minhas forças. Devo ajudar a esposa a lavar a louça, o motorista a trocar um pneu furado; posso avisar um empresário que o alarme da sua empresa disparou ou o vizinho, dizendo que a janela do carro está aberta no tempo chuvoso, etc. Posso não aprovar a vida adúltera daquela colega de trabalho, mas isso não me exime de amá-la profundamente, de orar por ela, de dar-lhe uma carona quando está atrasada, de socorrer-lhe quando está chorando, e não dizer ou pensar: “, boba, viu? Continue nessa vidinha e você vai ver no que vai dar…” Sabe porquê? Porque o amor não se alegra com a desgraça alheia. O amor é paciente, tudo perdoa, tudo sofre, tudo espera… O apóstolo, ao escrever isso no capítulo 13 da 1ª carta aos Coríntios, sabia o que estava dizendo: ele amava. Amava de verdade, ao ponto de dizer que sofria pelas pessoas como uma mãe sofre nas dores do parto (Gálatas 4:19). Isso é amar. É ir até o fim, como Jesus foi.

O pobre rapaz da nossa historinha estava em dúvida quanto aos seus sentimentos: gosto, não gosto? Me caso, não me caso? O sábio simplificou e foi direto ao assunto: ame-a! Esqueça se gosta ou não dela e despose-a, amando-a para sempre. Sirva-a, e depois colha os frutos do jardim que você semeou, regou e cuidou. Esqueça os teus sentimentos e despose-a por aquilo que você é – uma pessoa capaz de amar -, e não por aquilo que ela pode lhe dar. Se Jesus fosse amar-nos por aquilo que lhe damos… misericórdia, não estaríamos nem vivos!

O amor é gratuito. Se não for, não é amor. Por issosem nada esperar; planta, planta e planta, na esperança de um dia colher, e nada espera sem antes plantar.

Que sejam assim os nossos dias na Terra: cheios de amor! Que aprendamos a “desposarnão apenas os nossos cônjuges, mas também os colegas de trabalho, o vizinho, o pastor, o padre, o pipoqueiro da esquina, o porteiro do prédio, o ascensorista. Que tal, por exemplo, comprar-lhes uma barra de chocolate e dar-lhes bem numa quinta-feira à tarde, assim, sem mais nem menos? É, sem nenhum motivo especial, apenas pelo prazer de ver estampado um sorriso? Não foi por isso que Jesus veio ao mundo: gratuitamente, sem que lhe fizéssemos nada de especial?

Amar é uma decisão, nãoumsentimento.

Cezar Augusto Ribeiro

11 Comentários

  1. Cecília said,

    14 de fevereiro de 2009 às 16:28

    “O amor é gratuito. Se não for, não é amor.”
    Gostei dessa frase. Define bem o amor. As vezes esquecemos do verdadeiro amor, como ele é.
    Onde encontrou esse texto?

  2. Ailmadir said,

    14 de fevereiro de 2009 às 16:51

    Esse texto vem ao encontro de minhas reflexões mais recentes…
    É incrível, como hoje, as pessoas se casam já pensando que “se não der certo, separamos.”
    É impressionante, como se não fala mais em compromisso com o outro, com os filhos, com a sociedade…
    Vejo tantos casais separando, destruindo o patrimônio comum e, com isso, o futuro dos filhos, todos passam a ter dificuldades que não teriam se acreditassem na família. Vejo tantos casais separando e, prejudicando a própria saúde, com alimentação errada e comportamento incoveniênte…
    Não acho que se deva suportar o insuportável. Sou a favor de se ter o direito a uma 2ª chance, mas que se deva investir no que já se tem, antes de construir tudo de novo, às vezes com os mesmos erros…
    Afinal é bom ter com quem contar, aconteça o que acontecer, e é bom saber disso.
    Acima de tudo é importante dar testemunho disso. Testemunhar o que hoje não é valorizado por essa nossa cultura, que privilegia a ilusão e o egoísmo. Importante andar na contra-mão do + fácil. Até porque pode ser fácil descartar pessoas de nossas vidas, mas não é tão fácil ser descartado…
    Paz e bem

  3. Denise said,

    14 de fevereiro de 2009 às 20:08

    Fábio, meu amigo!
    Este texto fez-me lembrar das nossas maravilhosas conversas sobre a vida, Deus e sobre o amor. Contei-lhe minhas experiências no meu casamento e antes mesmo deste texto chegar às minhas mãos eu já lhe dizia que amar é uma decisão.
    Amar de verdade é deixar os próprios sentimentos de lado e decidir fazer o certo: amar a pessoa da sua vida, aquela que construiu uma história com você, aquela com quem você firmou uma aliança de vida e morte.
    Isso não é um sacrifício quando é bilateral, pois o cultivo do amor terá dupla recompensa.
    Um grande abraço meu querido irmão e amigo!
    Denise

  4. Filemom said,

    16 de fevereiro de 2009 às 4:51

    Oieee Fábio. Recebi sua mensagem “O amor é uma decisão”, li no blog, mas não concordei com algumas coisas… vou tentar explicar como penso.
    Decidimos agir de certas formas por causa do Amor. As boas obras q fazemos (como “entregar o corpo para ser queimado” I Co.13) de nada valem se não tiver amor. Então Amar é mais que uma decisão. Uma pessoa pode decidir entregar seu corpo para adiar a vida de muitos, mas essa decisão não vai valer de nada pra Deus, se não tiver amor. Amor é quem nos motiva a decidir, ou melhor, é quem nos ensina Porque decidir.
    Decidir casar com alguém não é como decidir avisar o vizinho sobre o vidro do carro que está aberto quando está chovendo (considerada “boa ação”). O casamento direcionado por Deus (o Amor), não deixa dúvidas quanto quem é seu par.
    O cristão que vive conforme a vontade de Deus não vai sentir Amor (de casal) por uma cristã q vive conforme a vontade de Deus, se Deus quer a cristã servido-O no Brasil e o cristão servindo-O lá no Japão. Pois acredito que Deus não iria colocar esse Amor no coração deles conflitando seus próprios planos. Mas, caso aconteça de errarem e começarem o relacionamento, e o rapaz chegasse para esse “sábio” e dissesse q estava com dúvidas… com certeza “case com ela (ame-a)” não seria a resposta certa. Mas sim, “Precisa passar mais tempo com Deus para saber a certeza dEle. Algo em você está te afastando da voz de Deus (que é Quem te dá a certeza)”.
    É por causa do Amor que sentem um pelo outro (dado por Deus) é que vão decidir (sem dúvidas) casar. E por terem o Amor, serão um só aos olhos de Deus. E por serem um só nesse Amor que os une, vão decidir juntos fazer a vontade de Deus (pois é o plano de Deus para os dois). Vão desejar conhecer cada detalhe um do outro para decidir fazer o melhor (aos olhos de Deus) um para o outro(um pertencendo ao outro). Assim também, todo cristão deseja conhecer cada detalhe dos ensinamentos do seu Salvador (Deus), para servi-Lo decidindo fazer tudo conforme Ele ensina e ordena. (logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim. Gálatas 2:20)
    Por isso, creio que o Amor não é uma decisão.
    Qualquer discordância… Fique a vontade para “replicar”.
    Abraços

  5. Ana Paula said,

    17 de fevereiro de 2009 às 10:35

    Olá,

    Fábio essa crônica é riquíssima.Boa demais! Espero que me autorize a usá-la, faço a referência correta.Se for de sua autoria está de parabéns!
    Fique com Deus!

  6. Jacqueline Santos said,

    2 de dezembro de 2009 às 12:08

    Olá,
    Este texto me fez repensar coisas e acontecimentos ocorridos em minha própria vida. Encontrei até mesmo respostas para algumas coisas que não sabia de fato o que significava, “sentimos”, até então que achava ser amor ou que achava amar alguém.
    Este texto foi paixão a primeira vista, falo dele para várias pessoas, casais, solteiros(as) e amigos(as).
    Esse trecho do texto: “O amor é paciente, tudo perdoa, tudo sofre, tudo espera…” me fez refletir e comparar a diferença de “Amar” como uma decisão e de “Amar” como um sentimento…

    Pois então termino meu comentário por aqui, senão farei um texto…
    Parabéns, adorei e uma boa tarde!!!

  7. 26 de outubro de 2010 às 0:16

    […] Amar é uma decisão […]

  8. Carla said,

    16 de fevereiro de 2011 às 10:33

    Olá Fabio.
    Gostei muito do texto.
    Ótima escolha em publicar um aprendizado que pode ajudar muitas pessoas!

    Abraços
    Carla Jesus

  9. jales said,

    26 de setembro de 2013 às 23:13

    Estava desesperado porque a mulher q eu amava me deixou sem mais nen menos e levou a minha filha com ela estou sofrendo muito pois se quer matar alguem de solidao e o pior veneno q existe mas tenho fe em CRISTO q toda essa tormenta vai passar…quem ler esse desabafo peco q lembre de mim na sua oracao e q DEUS os abencoem JALES HENRIQUE R OLIVEIRA

  10. 10 de novembro de 2013 às 9:54

    […] Fonte: Fábio Pereira […]


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